quarta-feira, 29 de junho de 2011

Hipnose e Medo de Agulhas

Tá certo, eu concordo, a idéia de tomar uma agulhada não agrada a ninguém...seja para vacina, injeção de medicamento, anestesia no dentista ou para retirar sangue, não tem quem diga que tomar uma agulhada é uma coisa super legal! Mas, por outro lado, tem gente que passa MUITO mal com a simples idéia de que terá que tomar uma injeção.

O termo técnico para este medo exagerado de agulhas é Aicmofobia (ou Tripanofobia se restrito a injeções) e a pessoa que sofre com este mal, ao se defrontar com a situação fóbica, tem sintomas que vão desde uma leve ansiedade ao pânico absoluto. Alguns trabalhos apontam que entre 10 e 20% da população adulta mundial são acometidos, em algum grau, por este transtorno e há quem acredite que este número seja ainda maior.

A fobia de agulhas geralmente tem origem em experiências pessoais traumáticas ou pode também ser adquirida por meio de relatos e/ou comportamentos observados de outras pessoas (mãe, pai, irmão, etc). Independente da causa, o fato é que, mesmo para as pessoas mais saudáveis, ocasionalmente é necessário enfrentar uma agulha e, considerando que o medo é uma das experiências mais debilitantes e agonizantes das experiências emocionais humanas, não é nada fácil para quem sofre deste transtorno.

Por conta disso, várias pesquisas são feitas para verificar a eficácia de técnicas psicológicas para superar ou amenizar este tipo de fobia...é claro que uma delas é a hipnose!

Como os leitores deste Blog já devem ter percebido, independente dos resultados positivos que observo com os meus pacientes, gosto de citar e considero importante comentar alguns dados de pesquisas que dão o suporte necessário para o uso da hipnose.

Na literatura científica encontramos alguns relatos de caso onde a hipnose foi usada com sucesso tanto em adultos (Medd 2001) como em crianças (Cyna 2007) para o tratamento da fobia de agulhas.

Em 2008 foi publicado na Revista de Psicologia Pediátrica (Uman 2008) um trabalho de revisão sistemática que analisou uma grande variedade de intervenções psicológicas usadas para o manejo da dor e da ansiedade em crianças e adolescentes submetidos a procedimentos com agulhas. Ao todo, as 28 pesquisas analisadas envolveram 1990 participantes e os autores verificaram uma alta relação entre o uso da hipnose e a diminuição da dor e ansiedade antes e durante os procedimentos com agulhas, concluindo então que há evidência suficiente para a utilização há hipnose neste tipo de situação.

Mais recentemente foi publicado um estudo clínico randomizado feito na Grécia (Liossi 2009) em que os autores verificaram a eficácia da auto-hipnose na redução da dor e da ansiedade relacionadas à punção venosa em 45 pacientes da ala oncológica do Hospital das Crianças em Atenas. Além de utilizar o auto-relato de ansiedade, os autores basearam as avaliações em relatos feitos por observadores que acompanhavam os procedimentos e registravam as reações das crianças. Também foi avaliada a ansiedade dos pais que acompanhavam o procedimento. Os resultados mostraram que os pacientes do grupo de hipnose relataram menos ansiedade antecipatória e menos dor e ansiedade durante o procedimento. Além disso estes pacientes foram classificados pelos observadores como tendo demonstrado menos sofrimento durante o procedimento. Os pais cujos filhos estavam no grupo que recebeu a hipnose também relataram menos ansiedade durante o procedimento de seus filhos. Os autores observaram ainda que os benefícios terapêuticos da intervenção hipnótica foi mantido nas consultas de acompanhamento.
Eu considero este trabalho particularmente importante porque além de ser um estudo clínico randomizado ele foi realizado num cenário médico real com um procedimento rápido e que ensinou a criança a fazer a auto-hipnose, o que dá a ela uma autonomia com a possibilidade de continuar usando o método sempre que precisar.

Se é algo tão simples e com resultados tão bons porque não é utilizado como rotina?

Boa pergunta...deixo você examinar o assunto para chegar na resposta, que talvez comece com "pre" e termine com "conceito".

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Uma visão ericksoniana da cura no transe hipnótico

Milton Erickson acreditava que o estado de transe é um estado de aprendizado ativo num nível inconsciente, ou seja um estado onde o aprendizado acontece sem a interferência da mente consciente. O transe hipnótico é, portanto, uma condição onde os preconceitos habituais e distrações da consciência são minimizados, de modo que um novo aprendizado possa ocorrer de forma mais eficiente.

Ernest Rossi, um dos discípulos de Milton Erickson e um dos grandes nomes da hipnoterapia atual, observa que este ponto de vista é totalmente consistente com o que se sabe hoje sobre o processo criativo em geral, em que se reconhece que a consciência é apenas uma estação de recepção para as novas combinações do processo criativo, que de fato ocorrem em um nível inconsciente.

Essa visão é também consistente com as abordagens iniciais da hipnoterapia usadas por Liebeault, Bernheim e Braid, que às vezes colocavam pacientes em transe por um período de tempo e depois os "acordavam" sem fazer nenhum tipo de sugestão direta sobre a terapia, e a cura acontecia mesmo assim. Pode-se inferir que a atmosfera de cura que envolvia esses processos, juntamente com o sistema de crenças daquela época, funcionavam como sugestões indiretas e não-verbais para colocar em movimento, dentro de seus pacientes, processos criativos autônomos que efetuavam a "cura".

Para Erickson um paciente é um paciente por causa de processos mentais equivocados e perspectivas limitadas de referência. Em sua terapia ele procura continuamente romper estas limitações rígidas para iniciar um estado de fluxo mental que pode liberar o potencial criativo do paciente. Portanto, as técnicas da abordagem ericksoniana tem como um dos principais objetivos despotencializar as limitações da mente consciente no sentido de facilitar a solução de problemas e a criatividade.

Ernest Rossi diz que o homem do século 20 é "aleijado" por um sistema materialista de crenças excessivamente racionalistas que tendem a rebaixar o funcionamento desses processos terapêuticos autônomos. Segundo ele, o homem moderno tem uma consciência arrogante que acredita que pode resolver e realizar tudo em um nível consciente e voluntário. São justamente estes esforços voluntários que freqüentemente ficam no caminho dos processos de cura natural.

É para lidar com esses esforços equivocados da mente consciente que Milton Erickson desenvolveu abordagens indiretas, que ocupam a mente consciente do paciente enquanto a mente inconsciente tem a oportunidade de criar novas soluções e estratégias para lidar com a vida. Todo o processo de indução de transe ericksoniano é projetado para relaxar os modelos rígidos da consciência habitual e permitir novos aprendizados internos, gerados pela mente inconsciente, e assim chegar no objetivo terapêutico.

"...e minha voz irá contigo e se transformará na voz da chuva e do vento..." (Milton H. Erickson)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Entrevista do meu amigo, Dr. Paulo Evangelista sobre Hipnose

Entrevista esclarecedora do Dr. Paulo Evangelista, de Porto Alegre, sobre a utilização clínica da hipnose.

Recomendo uma visita ao site do colega, que tem um sério trabalho na área: http://www.pauloevangelista.com.br

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Como acontece a Hipnose Ericksoniana?

Um dia desses uma amiga me disse algo assim: "Rodrigo, mesmo sabendo dos resultados positivos ainda não consigo compreender como funciona a hipnose ericksoniana. Você lê algum texto para o paciente? Você faz algumas afirmações a respeito do que a pessoa está querendo tratar?". Achei que seria interessante escrever um artigo a respeito disso para as pessoas que não conhecem a técnica terem uma idéia melhor de como ela acontece na prática.


A idéia que geralmente as pessoas têm de hipnose é a de que o hipnoterapeuta irá colocar a pessoa em transe e em seguida dar as instruções relacionadas à terapia desejada. Esta imagem está muito relacionada à hipnose clássica que trabalha sempre com um processo que envolve uma indução formal de transe (um estado em que o paciente fica de olhos fechados e focado em processos internos) seguida de uma fase terapêutica, onde são transmitidas algumas "instruções" de como o paciente irá se comportar dali em diante. Nesta abordagem, tanto o processo de indução como o terapêutico são normalmente muito direcionados. O hipnoterapeuta diz ao paciente o que ele está experimentando ("suas pálpebras estão ficando pesadas") e como ele deverá se comportar ("você não terá mais vontade de fumar"). É comum os hipnoterapeutas clássicos se utilizarem de roteiros escritos com o que será dito tanto na fase de indução como na fase terapêutica.

Na hipnose ericksoniana nem sempre se faz uma indução formal de transe. Em algumas situações o processo terapêutico acontece durante uma conversa, aparentemente normal. Isso porque Milton Erickson percebeu que o estado de transe faz parte do repertório natural das pessoas, isto é, as pessoas entram e saem de transes a todo o momento. Portanto, o processo terapêutico da hipnose pode acontecer durante uma conversa em que, por meio de associações de idéias e sugestões utilizadas pelo hipnoterapeuta, o paciente pode ter acesso a recursos internos que serão utilizados para lidar com o problema em questão.

Mesmo quando se faz uma indução formal de transe, é menos comum na hipnoterapia ericksoniana dizer ao paciente o que ele vai sentir, ou como deverá se comportar, ou seja ela não é direcionada pelo terapeuta como a hipnose clássica. Trabalha-se com possibilidades: "talvez você sinta que as suas pálpebras estão ficando diferentes", "e você poderá perceber algumas mudanças no seu pensamento", etc. Além disso, na hipnose ericksoniana não se faz uso de roteiros pré-escritos. Cada indução é individualmente elaborada de acordo com o paciente e com o que está acontecendo naquele momento. O hipnoterapeuta acompanha o que o paciente está experimentando e conduz o processo de maneira a adequar o que é dito com o que está acontecendo, utilizando na indução o que acontece durante o processo.

Milton Erickson raramente abordava o problema do paciente de uma forma direta. Segundo ele, isso evita o surgimento de resistências à terapia. Era muito comum ele contar uma história, uma piada, ou falar de um assunto que parecia que não tinha nada a ver com o que o paciente queria resolver e, com o passar dos dias, o paciente percebia que o problema estava resolvido.

Portanto, a hipnoterapia ericksoniana acontece por meio de conversas entre o paciente e o terapeuta. Nessas conversas estão envolvidas formas muito especiais de comunicação que despertam processos internos de mobilização de recursos no sentido de buscar a solução do problema apresentado. Esta comunicação pode envolver a indução de um transe formal, em que o paciente reduz sua percepção periférica e fica mais focado internamente, enquanto o hipnoterapeuta faz as sugestões que considera mais adequadas para alcançar o objetivo desejado. Essas sugestões, no caso da hipnose ericksoniana, são geralmente indiretas, na forma de metáforas, histórias, analogias, etc. e auxiliam o acesso a recursos e processos inconscientes que serão utilizados para alcançar o objetivo da terapia.

É isso! Se você ainda tem dúvidas, faça uma pergunta nos comentários do blog ou por meio do contato do site...terei prazer em responder!

(a foto neste artigo mostra o Dr. Milton Erickson durante uma sessão)

domingo, 12 de junho de 2011

Hipnoterapia, Hipnose e Regressão

Algumas pessoas confundem hipnose com hipnoterapia e considero muito importante que seja feita uma distinção clara entre as duas coisas.

A hipnose pode ser considerada um estado especial de consciência ligado a um profundo relaxamento, foco concentrado e sugestibilidade aumentada. Portanto a hipnose em si não é terapia. Há uma grande diferença entre o ato de hipnotizar alguém (hipnose) e as mudanças que podem acontecer com a ajuda de um hipnoterapeuta qualificado (hipnoterapia).



A hipnose, segundo o Dr. Milton H. Erickson, é um tipo de comportamento especial, mas normal, que acontece quando a atenção e os processos do pensamento são dirigidos para as aprendizagens experienciais adquiridas durante a vida do indivíduo. Neste estado especial de consciência chamado hipnose vários comportamentos do dia-a-dia podem se manifestar, em diferentes graus, mas sempre dentro dos limites normais. Segundo Erickson “na hipnose não se adquire super poderes nem tampouco novas habilidades, o que acontece é um melhor aproveitamento das habilidades que a pessoa já possuía, ainda que essas habilidades não fossem previamente reconhecidas”.

O trabalho hipnótico facilita a descoberta de novas opções na vida e a quebra de padrões de sentimentos e comportamento indesejáveis.

Quando se usa a hipnose para tratar um problema físico ou psicológico, chamamos o processo de hipnose clínica ou de hipnoterapia.

É importante também diferenciar:
Hipnotizador: pessoa sem formação na área de saúde ou que hipnotiza para fins de entretenimento
Hipnoterapeuta: pessoa com formação na área de saúde e que utiliza a hipnose com fins terapêuticos. (Algumas pessoas preferem usar o termo Hipnólogo)

Outra confusão muito comum é pensar que Hipnoterapia é o mesmo que Terapia de Vidas Passadas ou Regressão.

A hipnose é um instrumento terapêutico que resulta em um estado de atenção altamente focada, com redução da consciência periférica e uma capacidade aumentada de resposta às pistas sociais. O procedimento de hipnose consiste em uma indução, que coloca o paciente no estado de transe, e, em seguida sugestões são feitas ao paciente para ajudar a alcançar os objetivos da sessão.

De maneira simplista, a hipnose pode ser considerada um estado ou condição que ocorre quando sugestões apropriadas provocam distorções na percepção, memória e/ou humor. Entre as distorções de percepção possíveis, numa sessão de hipnoterapia, o paciente pode vivenciar a sensação de regressão do tempo mas esta sensação pode acontecer por meio da imaginação criativa, o que significa que nem todas as experiências regressivas vividas durante um transe hipnótico são provindos exclusivamente daquilo que foi vivido pelo paciente. Ou seja, hipnose não é regressão e, embora processos regressivos possam ser usados como instrumento durante a hipnoterapia, eles não são considerados necessariamente como regressões reais provindas da memória do paciente.

A hipnose pode ser utilizada:
Na Psicologia: tabagismo, emagrecimento, fobias, depressão, ansiedade, problemas sexuais, alcoolismo, problemas de fala, dores crônicas, auto-estima e fortalecimento do ego e melhoras na concentração ou memória.
Na Medicina: psiquiatria, anestesia e cirurgia, doenças psicossomáticas, ginecologia e obstetrícia (parto), controle de sangramento, tratamento de queimaduras, dermatologia, pediatria (xixi na cama, pesadelos, timidez e inadaptação), controle da dor, controle de vícios.
Na Odontologia: medo de ir ao dentista, controle da dor e desconforto, bruxismo, controle de sangramento, controle da salivação excessiva.

sábado, 4 de junho de 2011

Hipnose para ansiedade e depressão

Trecho da entrevista com o Dr. Brent Geary em que ele fala do uso da Hipnose para Transtornos de Ansiedade e Depressão.





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