quinta-feira, 23 de junho de 2011

Uma visão ericksoniana da cura no transe hipnótico

Milton Erickson acreditava que o estado de transe é um estado de aprendizado ativo num nível inconsciente, ou seja um estado onde o aprendizado acontece sem a interferência da mente consciente. O transe hipnótico é, portanto, uma condição onde os preconceitos habituais e distrações da consciência são minimizados, de modo que um novo aprendizado possa ocorrer de forma mais eficiente.

Ernest Rossi, um dos discípulos de Milton Erickson e um dos grandes nomes da hipnoterapia atual, observa que este ponto de vista é totalmente consistente com o que se sabe hoje sobre o processo criativo em geral, em que se reconhece que a consciência é apenas uma estação de recepção para as novas combinações do processo criativo, que de fato ocorrem em um nível inconsciente.

Essa visão é também consistente com as abordagens iniciais da hipnoterapia usadas por Liebeault, Bernheim e Braid, que às vezes colocavam pacientes em transe por um período de tempo e depois os "acordavam" sem fazer nenhum tipo de sugestão direta sobre a terapia, e a cura acontecia mesmo assim. Pode-se inferir que a atmosfera de cura que envolvia esses processos, juntamente com o sistema de crenças daquela época, funcionavam como sugestões indiretas e não-verbais para colocar em movimento, dentro de seus pacientes, processos criativos autônomos que efetuavam a "cura".

Para Erickson um paciente é um paciente por causa de processos mentais equivocados e perspectivas limitadas de referência. Em sua terapia ele procura continuamente romper estas limitações rígidas para iniciar um estado de fluxo mental que pode liberar o potencial criativo do paciente. Portanto, as técnicas da abordagem ericksoniana tem como um dos principais objetivos despotencializar as limitações da mente consciente no sentido de facilitar a solução de problemas e a criatividade.

Ernest Rossi diz que o homem do século 20 é "aleijado" por um sistema materialista de crenças excessivamente racionalistas que tendem a rebaixar o funcionamento desses processos terapêuticos autônomos. Segundo ele, o homem moderno tem uma consciência arrogante que acredita que pode resolver e realizar tudo em um nível consciente e voluntário. São justamente estes esforços voluntários que freqüentemente ficam no caminho dos processos de cura natural.

É para lidar com esses esforços equivocados da mente consciente que Milton Erickson desenvolveu abordagens indiretas, que ocupam a mente consciente do paciente enquanto a mente inconsciente tem a oportunidade de criar novas soluções e estratégias para lidar com a vida. Todo o processo de indução de transe ericksoniano é projetado para relaxar os modelos rígidos da consciência habitual e permitir novos aprendizados internos, gerados pela mente inconsciente, e assim chegar no objetivo terapêutico.

"...e minha voz irá contigo e se transformará na voz da chuva e do vento..." (Milton H. Erickson)

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